A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A Semana na Ciência

Migrações forçadas

Pesquisadores propõem levar animais, como elefantes, para a 

Austrália e para o Pantanal brasileiro a fim de restabelecer o 

equilíbrio ecológico onde os grandes mamíferos foram extintos 

pelo homem

André Julião
chamada.jpg
IMIGRANTE
Elefantes africanos podem fazer parte da paisagem australiana em breve
A semana passada marcou o aniversário de três anos do episódio conhecido como “Sábado Negro”, quando incêndios florestais consumiram 400 mil hectares no sul da Austrália, matando 173 pessoas e milhões de animais. Foi o momento para o pesquisador David Bowman, da Universidade da Tasmânia, trazer à tona um assunto polêmico, mas recorrente entre os cientistas. Num artigo na prestigiada revista “Nature”, Bowman sugere levar elefantes africanos para a Austrália. Só animais desse porte teriam capacidade para ingerir a vegetação que, quando seca, provoca incêndios que consumiram 5% do território australiano no ano passado.

Os cientistas chamam esse procedimento de “migração assistida”. Os animais exóticos exerceriam um papel que foi de bichos nativos, extintos no fim do Pleistoceno, entre 50 mil e 11 mil anos atrás – período do primeiro contato desses grandes mamíferos com os humanos. “Os elefantes precisariam ser manejados com cautela, não soltos de forma descontrolada e usados como máquinas de comer capim”, disse Bowman à ISTOÉ. 

No Brasil, o ecólogo Mauro Galetti, da Unesp, defende a introdução de elefantes e outros animais no Cerrado e outros ecossistemas. “Se tirarem as vacas que estão no Pantanal, certamente aumentarão os incêndios”, diz. Segundo ele, esses animais domésticos exercem, hoje, a função que foi de herbívoros extintos, como preguiças-gigantes, mamutes e cavalos selvagens.
img1.jpg
CONTRASTE
Australianos combatem incêndio florestal. Abaixo,
o Cerrado brasileiro, que também pode ser repovoado
img.jpg
A prática é controversa. “Sou radicalmente contra”, diz o biólogo Célio Haddad, colega de Galetti na Unesp. Ele cita o caso da rã-touro, que chegou ao Brasil nos anos 1930 para ser criada em cativeiro, mas acabou solta na natureza, se tornando uma praga para espécies nativas. “Além disso, ninguém sabe as doenças que as espécies invasoras podem trazer”, afirma Haddad. Os defensores da migração assistida dizem que os riscos praticamente não existiriam se veterinários acompanhassem os animais introduzidos, que ficariam em espaços controlados. 

Um exemplo de sucesso é o Parque do Pleistoceno, uma área de 16 quilômetros quadrados na Sibéria. Desde 1989, o russo Sergey A. Zimov tenta reproduzir o ambiente da época dos mamutes, introduzindo espécies como renas e alces, que comem a vegetação e estariam restabelecendo o equilíbrio ecológico. O estudo, porém, ainda está longe de acabar. Até lá, não há como afirmar categoricamente os prós e contras de mais essa interferência humana na natureza.
G_Animais.jpg

O perigo que vem do céu

Alemães afirmam que um de seus satélites caiu a poucos 

quilômetros de Pequim, quase provocando uma tragédia. 

Autoridades chinesas ficam em silêncio

André Julião
chamada.jpg
POR POUCO
Acima, multidão nas ruas de Pequim. Abaixo, o satélite Rosat, que caiu perto da capital chinesa
img.jpg
Poderia ter sido uma tragédia. O governo alemão divulgou há poucos dias que um de seus satélites despencou na Baía de Bengal, na China, em outubro do ano passado, depois de passar mais de 20 anos flutuando sobre a Terra. Cair na água é quase a regra quando se trata desses instrumentos graças às dimensões de nossos oceanos, mas, neste caso, se permanecesse mais sete minutos no ar, o artefato teria se chocado com a cidade de Pequim, lar de 20 milhões de chineses. Como era de se esperar, as autoridades do governo chinês não se manifestaram sobre o caso.

O satélite, batizado de Rosat, foi lançado no dia 1º de julho de 1990 em Cabo Canaveral, nos EUA. A bordo, a tecnologia mais moderna disponível, que permitiu aos cientistas procurar por fontes de radiação, como galáxias e buracos negros. Programada para operar por 18 meses, a máquina coletou dados por quase nove anos. Na madrugada de 22 para 23 de outubro, porém, sua história chegou ao fim. Os detritos viajaram a cerca de 450 quilômetros por hora e por muito pouco não atingiram a capital chinesa. O Rosat pesava 2,5 toneladas. “Sabemos que cerca de 60% do satélite voltou à Terra, porque ele tinha partes particularmente pesadas e duráveis”, disse Heiner Klinkrad, especialista em detritos espaciais da agência espacial europeia (ESA). 

Não faltam candidatos para a próxima queda. Existem cerca de 13 mil satélites em órbita e pelo menos 20,5 mil caíram desde 1957. Especialistas acreditam que menos de 3,5 mil estejam funcionando, enquanto os outros dez mil possam ser classificados como detritos, mas não tenham despencado ainda. Isso significa que em torno de 75% de todos os satélites orbitando a Terra já viraram lixo.

Se o Rosat tivesse caído em Pequim, teria destruído construções e certamente deixado mortos e feridos. Um acordo internacional faz com que o país que coloca um artefato em órbita seja responsável por qualquer dano causado pela queda dos seus detritos.

Os cientistas da ESA monitoraram o Rosat durante anos. Quando ele deixou de funcionar, em 1999, não havia mais como controlá-lo. Especialistas como Klinkrad tentam identificar satélites em fim de operação e calcular onde eles podem cair. Mas não há o que temer. Como 70% da superfície terrestre está coberta de água e a maior parte do território do planeta é desabitada, as chances de uma pessoa ser atingida são de uma em 3,2 mil, de acordo com a Nasa. Sorte dos chineses.
img1.jpg

A NASA vai de táxi

Agência espacial americana investe em empresas privadas 

para levar seus astronautas à Estação Espacial Internacional

André Julião
chamada.jpg
COMPACTO 
O miniônibus espacial desenvolvido pela Sierra Nevada Corp.
Uma “simples” corrida até a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) está um tanto salgada para os americanos. Eles têm de desembolsar cerca de US$ 60 milhões por tripulante que embarca no módulo Soyuz, da Rússia. Por isso a Nasa, agência espacial dos EUA, planeja investir até US$ 500 milhões em duas empresas escolhidas para projetar e fabricar “táxis” espaciais capazes de levar e trazer astronautas à ISS. O anúncio foi feito na semana passada.

O programa é mais um investimento da Nasa em empresas voltadas para a construção de naves. Com a aposentadoria dos ônibus espaciais no ano passado, os russos passaram a ser os únicos parceiros dos americanos com condições de transportar astronautas. A China também faz voos tripulados, mas foi vetada da ISS pelos EUA e tem um programa espacial independente.

As empresas que ganharem a concorrência terão até maio de 2014 para concluir os projetos. Se as verbas permitirem, a intenção é testar as naves nos dois anos seguintes. “Com capacidade para pelo menos quatro tripulantes, elas terão de realizar um voo de demonstração e ser capazes de alcançar uma altitude de pelo menos 370 quilômetros, fazendo manobras no espaço e permanecendo em órbita durante pelo menos três dias”, afirmou Ed Mango, do programa de Tripulação Comercial da Nasa. 

A agência espacial americana já investiu US$ 365,5 milhões em empresas privadas – US$ 130,9 milhões na Boeing, US$ 125,6 milhões na Sierra Nevada Corp. e US$ 75 milhões na SpaceX. Os veículos espaciais aprovados devem ser lançados com o foguete Atlas 5, fabricado por uma joint-venture da Boeing e da Lockheed Martin. 

A SpaceX já tem contrato para levar cargas à ISS, mas pretende modernizar a nave Dragon e o foguete Falcon 9 para transportar astronautas. Já a Sierra Nevada Corp. desenvolve um veículo que se parece com um ônibus espacial em miniatura. A Nasa tem US$ 406 milhões para gastar em novos programas como esse. Os escolhidos devem ser anunciados entre julho e agosto e, até 2017, a agência pretende começar a usar os voos espaciais. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário