A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 22 de julho de 2012

A Semana na Ciência

Armas do bem

Os mesmos laboratórios que no passado desenvolveram armamentos nucleares de destruição em massa hoje produzem dados que ajudam a salvar o planeta e quem vive nele

Larissa Veloso


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NOVOS TEMPOS
Criado para desenvolver armas nucleares, hoje o laboratório Lawrence Livermore,
nos EUA, usa seus supercomputadores para estudar as mudanças climáticas

As bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos sobre Hiroshima e Nagasaki no fim da Segunda Guerra Mundial mataram diretamente mais de 150 mil pessoas. Depois que a nuvem em forma de cogumelo se dissipou, nunca mais as pessoas viram os testes atômicos como instrumento para gerar algo positivo. Mas um historiador da Universidade de Michigan, nos EUA, mostra como a indústria de armas nucleares migrou da destruição em massa para a proteção do planeta. Em artigo no “Bulletin of the Atomic Scientists”, Paul Edwards afirma que, se não fossem os estudos para o desenvolvimento de armas, a ciência climática estaria engatinhando.

Nos primeiros testes de grande magnitude nos anos 1950, contaminações provocadas pela dispersão de material radioativo levantaram o alerta, e os cientistas começaram a vigiar os ventos. “Esses eventos levaram à criação de redes de monitoramento. Uma das redes estabelecidas pelo Laboratório de Segurança e Saúde da Comissão de Energia Atômica em 1951 foi depois ampliada para cerca de 200 estações de monitoramento climático da Força Aérea americana ao redor do mundo”, explica Edwards. Com o crescimento das instalações, o homem passou a entender cada vez mais a dinâmica da atmosfera, o que é crucial para monitorar o clima.

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OBSOLETO
Desde os anos 1990, os russos tentam comprar supercomputadores.
Sem as máquinas, os laboratórios do país estão de fora da onda verde

Rede montada para garantir que os países não façam testes com bombas nucleares, a CTBTO (Comprehensive Nuclear-Test-Ban Organization, na sigla em inglês) ajudou a amenizar uma catástrofe ambiental. A organização previu a dispersão de material radioativo provocada pelo acidente na usina Fukushima, no Japão, em março do ano passado. Os dados coletados pela CTBTO nas mais de 280 estações de monitoramento ao redor do mundo ajudam a aumentar o volume de material usado nos modelos climáticos. “Todo processo que permite coletar dados reais do comportamento do material na atmosfera é útil. E todo modelo matemático (como os usados para estudar o clima) precisa de dados para ser validado”, afirma Luiz Fernando Conti, assessor da diretoria de pesquisa e desenvolvimento da Comissão Nacional de Energia Nuclear.

Há um benefício extra por conta do redirecionamento desses laboratórios. Com o fim da Guerra Fria, caso continuassem apenas a desenvolver armas, os cientistas e as máquinas estariam sem emprego. “Nossos computadores foram originalmente desenvolvidos para testar armas nucleares. Agora são usados para estudar a ciência da mudança climática” reforça a porta-voz do Laboratório Nacional de Lawrence Livermore, na Califórnia, Anne Stark. A transição manteve o quadro de funcionários inalterado.
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DESASTRE
Agentes em Fukushima ajudam a analisar o vazamento da usina. Equipamentos
usados para prevenir uma guerra nuclear ajudaram na contenção da catástrofe
Sobre essa troca de função, Edwards deixa um recado nas palavras finais de seu artigo. “Hoje, os laboratórios construídos para criar o mais temível arsenal em toda a história estão fazendo o que podem para impedir outra catástrofe – não uma causada por governos em guerra, mas por bilhões de indivíduos normais vivendo vidas comuns dentro de uma economia energética que precisamos reinventar.” Transformar um sistema de destruição em massa em ferramenta para melhorar nossas condições de vida é um promissor primeiro passo.

À prova de barbeiros

Cientistas criam carro que desvia de obstáculos sem a intervenção do motorista e dão passo decisivo para a chegada dos veículos que se dirigem sozinhos

Juliana Tiraboschi

Assista ao vídeo:
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DESPERTADOR
Sistema de montadora europeia monitora o sono do motorista e indica a hora de parar

O motorista acorda, se arruma, entra no carro e diz “toca para o escritório”. Enquanto o automóvel se desloca sem ninguém ao volante, o condutor toma um café, lê o jornal e checa os e-mails. Tudo isso sem riscos de acidentes ou multas. Esse roteiro deixará de ser ficção a partir do momento em que os veículos autônomos ocuparem as ruas. E os cientistas acabam de dar um passo gigante para que esse dia chegue o quanto antes.

Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) criaram um sistema capaz de fazer o carro desviar sozinho de um poste, por exemplo. O veículo é equipado com câmeras e um telêmetro (aparelho que mede distâncias) a laser, para identificar obstáculos. Também conta com GPS, acelerômetros e um giroscópio para avaliar o sentido de direção e a velocidade. O sistema foi testado cerca de 1.200 vezes e falhou em 25% delas. Segundo Sterling Anderson, doutorando no MIT e líder da pesquisa, os erros foram causados por problemas nos sensores, que não eram de grande qualidade. “Mesmo assim, eliminamos 75% das colisões. Com um orçamento maior, é possível alcançar os 100%”, diz. O equipamento foi montado em dois veículos. Um tinha motorista. Outro, sem ninguém ao volante, foi desenvolvido com a empresa Quantum Signal.

Até alguns anos atrás, as novidades mais bem-vindas na segurança automotiva eram os freios ABS e os airbags. Agora, a tendência é apostar em dispositivos “de para-choque”, ou seja, aqueles que evitam colisões, geralmente pela redução automática da velocidade. No futuro, a grande inovação será representada pelos sistemas de direção, ou seja, aqueles em que há a possibilidade de permitir que o veículo vire para um lado ou desvie de um objeto sozinho, como é o caso do experimento do MIT. O passo seguinte, então, será a automação total. O Google já criou um carro que se dirige sozinho. Em maio deste ano, a empresa conseguiu uma licença do Departamento de Trânsito do Estado de Nevada, a primeira dos EUA emitida para um carro que não precisa de motorista.
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Mas, para que o carro autônomo se torne comercial, ainda vai levar um bom tempo. Antes é preciso desenvolver algumas tecnologias, baratear custos e promover melhorias nas estradas, como padronização na sinalização, principalmente das faixas que dividem as pistas. “Nos anos 1970, se um pneu estourava e a pessoa não tinha habilidade ao volante, ela capotava o carro”, diz o engenheiro mecânico Luiz Carlos Gertz, pesquisador e professor da Universidade Luterana do Brasil (RS). “Hoje, isso não acontece. Geralmente os acidentes ocorrem por falhas humanas, como excesso de velocidade, sono, falar ao celular, etc. O carro autônomo melhoraria muito a segurança”, afirma.

Mas tanta tecnologia para socorrer os barbeiros não pode deixar os motoristas mais relapsos, agressivos e excessivamente confiantes no poder de seu carro corrigir seus deslizes? “É verdade que novos dispositivos deixam as pessoas menos cuidadosas, mas isso não é razão para deixarmos de desenvolver sistemas que salvam vidas”, diz Sterling Anderson, do MIT. Ou seja, em vez de aprender com seus erros correndo o risco de se acidentar, os motoristas serão educados com luzes, sirenes, vibrações no banco ou tendo que se conformar em entregar o controle para alguém mais habilidoso ao volante: seu próprio carro.

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