A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 29 de julho de 2012

A Semana na Ciência

Criando vida

Um estranho ser feito em laboratório pode ser a esperança para 

o desenvolvimento de órgãos humanos artificiais

Juliana Tiraboschi
Assista ao vídeo e saiba como a água-viva artificial foi desenvolvida : 

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Ela se parece com uma água-viva e se movimenta como tal, mas essa criatura nascida nos laboratórios do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e da Universidade de Harvard (EUA) não tem DNA de água-viva. O “medusoide”, como é chamado pelos pesquisadores, é um ser semibiológico feito de silicone e células de rato. Quando é colocado em um meio aquático e submetido a uma corrente elétrica, se move de maneira impressionantemente realista. “Ou seja, conseguimos gerar algumas funções essenciais de uma medusa usando células-vivas de outro animal”, diz Janna Nawroth, principal autora da pesquisa. 

O objetivo dos cientistas ao criar o medusoide não foi fazer uma experiência maluca de misturar espécies ou brincar de Deus. O laboratório de Harvard que ajudou a desenvolver a criatura sintética trabalha no estudo de modelos artificiais de tecidos cardíacos humanos para testar novos remédios e maneiras de regenerá-los. Essa água-viva artificial é um dos passos necessários para se chegar a modelos mais complexos e parecidos com um órgão humano.

Construir o medusoide foi um trabalho complexo. Janna observou águas-vivas de verdade para mapear e quantificar toda a orientação das fibras contráteis, estruturas que ficam dentro das células musculares, para entender como esses animais se movimentam. A partir desse conhecimento, os cientistas cria­ram uma base de silicone no formato de uma água-viva e injetaram nela células cardíacas de rato. Depois, eles “imprimiram” uma espécie de molde de proteínas na membrana do medusoide. As células musculares reconhecem esse molde como se fosse uma “grade”, e alinham suas fibras ao longo dessa estrutura.
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“Nós investigamos o modo como as células cardíacas de ratos se contraem e percebemos que a cinética do movimento, ou seja, o intervalo entre contração e relaxamento, é parecida com a das águas-vivas”, afirma Nawroth. Agora, o próximo passo da pesquisa é aumentar a complexidade do modelo e torná-lo mais autônomo. “Podemos, por exemplo, inserir um marca-passo no medusoide para dar-lhe um ritmo de ‘batimento’ próprio”, prevê a bióloga americana. 

“A ciência sempre busca isolar os fenômenos para entender o todo, e esse experimento de Harvard é interessante para estudar modelos musculares”, diz Amílcar Tanuri, professor-titular de genética da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Se é possível criar uma peça que responde a estímulos, podemos imaginar para o futuro o desenvolvimento de um coração artificial, por exemplo”, afirma.
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Em verdes mares

O USS Nimitz é o primeiro porta-aviões a usar biocombustível 

como forma de redução da emissão de gases poluentes e fuga dos 

derivados do petróleo

Tamara Menezes
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PIONEIRO
O navio de guerra em sua primeira navegação com biocombustível
O maior consumidor de combustíveis nos Estados Unidos quer ser verde. As Forças Armadas americanas, que gastam quatro vezes mais energia que os demais órgãos do governo somados, fizeram o primeiro teste com um porta-aviões e 71 aeronaves abastecidos com biocarburante durante uma simulação de operação militar. O combustível convencional é misturado a algas e óleo de cozinha em partes iguais. Além do apelo ecológico das mudanças climáticas, o exercício visa minimizar a dependência de óleo importado de nações estrangeiras. A iniciativa causou polêmica pelo alto custo (até quatro vezes maior que o combustível normal), mas pode até mudar radicalmente a política externa americana. 

Coube ao porta-aviões USS Nimitz ser o primeiro navio da “Grande Frota Verde”, pacote de metas americanas para cortar o uso de petróleo por equipamentos militares até 2020. Ele se desloca pelo Oceano Pacífico até agosto movido a algas e diesel comum. Já os helicópteros, jatos e naves de apoio adotam o bioquerosene, com óleo de cozinha usado. Os combustíveis são “drop-in”, ou seja, mesclam biomassa ao combustível e dispensam adaptações em motores e estruturas de abastecimento. 

Esse projeto de diversificação da matriz energética virou assunto prioritário nas Forças Armadas, afinal aeronaves, navios e veículos terrestres continuam reféns dos derivados do petróleo e as importações forneceram 45% do combustível em 2011. “Estamos empenhados em achar alternativas ao petróleo estrangeiro. Acreditamos que é fundamental para a segurança nacional e nossa capacidade de combate”, afirmou Ray Mobus, secretário da Marinha americana, ao jornal britânico “The Guardian”. Tanto é verdade que a Agência Governamental de Informações sobre Energia (EIA, em inglês) afirmou que as importações de óleo estrangeiro vem caindo desde 2005.
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BIOFROTA
Tripulantes do USS Nimitz controlam a transferência do biocombustível
entre os tanques do porta-aviões (acima) e testam sua qualidade (abaixo)
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Ex-ministro das Relações Exteriores (1995-2001) e professor da ESPM, Luiz Felipe Lampreia avalia que a vulnerabilidade energética influencia as decisões da potência militar e foi determinante nas disputas após a Segunda Guerra Mundial. Mas descarta a substituição total do petróleo ainda que as barreiras aos biocombustíveis fossem levantadas. “Não haveria condição de produzir tanto nem se plantasse cana-de-açúcar em toda a Amazônia”, acredita.

“(A troca) levaria a uma mudança estratégica em que as Forças Armadas deixariam de ser ponta de lança da política externa dos EUA”, arrisca o brigadeiro Delano Teixeira Menezes, diretor da Escola Superior de Guerra em Brasília. Já o Brasil, compara, não costuma usar suas Forças Armadas como ferramenta de pressão internacional. Por aqui, a adoção de combustíveis “limpos” teria mais impacto econômico. “Estamos nos antecipando a um futuro próximo, em que teremos vantagem pela forte produção agrícola”, antevê o analista. 

De qualquer forma, no Brasil existem projetos para a aviação desde o início dos anos 1980. Além de experimentos com bioquerosene, a Aeronáutica desenvolve um inédito motor flex para aviões, turbina exclusiva para etanol e ainda uma opção impulsionada por oxigênio líquido. Ter jogo de cintura é preciso.
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