A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 1 de julho de 2012

A semana na Ciência

A chave do futuro

Com a promessa de oferecer muito mais segurança que os 

sistemas atuais, empresa apresenta tecnologia que transforma o 

corpo humano em senha para abrir portas

Larissa Veloso
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NINGUÉM ENTRA
Se o sistema criado pelos americanos não reconhecer as digitais,
o rosto e os gestos do usuário, a porta não abre
Imagine uma vida sem senhas ou chaves. Ao chegar em casa, um dispositivo reconhece o seu rosto, a sua voz e os seus gestos. Só depois disso é que a porta se abre. Em outra ocasião, no trabalho, você recebe uma mensagem no seu smartphone mostrando que há um entregador em frente a sua residência. Remotamente você faz o reconhecimento do funcionário e até mesmo do conteúdo do pacote. A partir daí, é só pressionar um botão para autorizar ou não a sua entrada (leia quadro).

A tecnologia para tornar isso possível já está aí. A Intel apresentou o protótipo “life without keys” (vida sem chaves) em seu evento anual em São Francisco, nos Estados Unidos. A novidade está em combinar vários sistemas de biometria – o reconhecimento de padrões do corpo, como as digitais, a íris, o formato da cabeça – que já existem isoladamente. “Quanto mais padrões diferentes de reconhecimento estiverem combinados, menor é a chance de fraude”, avalia Fábio Leto Biolo, sócio-diretor da Smartsec, empresa que trabalha com sistemas biométricos no Brasil.

Segundo Biolo, o risco de usar o reconhecimento de atributos separadamente, como a face ou a impressão digital, é a chance do chamado falso positivo. Alguns sistemas de identificação, por exemplo, não reconhecem se o dedo é de uma pessoa real. “Então um ladrão pode chegar com um protótipo feito de silicone e entrar. O mesmo pode ser feito em alguns casos com a foto de um usuário”, alerta. Ao unir vários atributos, a Intel dificulta demais a vida dos larápios.

Outra novidade apresentada pela empresa e que pode diminuir a circulação de chamarizes de ladrões é um dispositivo que transforma qualquer superfície em tela sensível ao toque. O usuário pode projetar fotos numa parede, por exemplo, e agrupar ou modificar o tamanho das imagens. A tecnologia também pode ser usada em superfícies como mesas. Assim, não é preciso ficar andando com o laptop pra lá e pra cá. Com os dois lançamentos, a empresa espera colaborar para um futuro em que as únicas chaves necessárias sejam as das celas dos presídios.
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Voo verde

Responsável por 2% dos gases do efeito estufa, indústria da 

aviação investe em pesquisa para ser mais limpa até 2050

Edson Franco
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MAIS RÁPIDO QUE O CONCORDE 
Movido a biocombustível, hidrogênio e oxigênio, o ZEHST chegará
aos 5.000 km/h e fará o trecho Paris-Nova York em uma hora e meia
O setor de aviação tem pressa. E culpa. Responsável pela emissão de 2% dos gases que fazem da Terra um lugar mais quente, estabeleceu para si próprio o desafio de zerar a emissão de carbono até 2020. É uma estratégia digna de elogios do ponto de vista ambiental, mas que deve ser estimulada mais por aspectos econômicos. Os primeiros investimentos para que o planeta sofra menos com os aviões são uma amostra disso. A empresa aérea americana United Airlines consome 50 milhões de litros de querosene por dia, ao custo de US$ 35 milhões. “Ou US$ 25 mil por minuto”, diz Robert M. Sturtz, diretor da empresa. Os biocombustíveis têm sido apontados como um eficaz redutor de custos na hora de abastecer aeronaves. Por conta disso, empresas e centros de pesquisa no mundo todo passaram a apresentar alternativas.
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Nas duas últimas semanas, a brasileira Azul e a holandesa KLM realizaram voos com biocombustíveis ocupando parte do tanque das aeronaves. A companhia nacional utilizou um composto à base de cana e fez o percurso entre Campinas e Rio de Janeiro. Os holandeses foram mais ambiciosos e protagonizaram o primeiro voo intercontinental com biocombustível, entre Amsterdã e o Rio. Em comparação com a Azul, a KLM aterrissou com um bônus ambiental. Desenvolvido desde 2007, o combustível que abasteceu sua aeronave levou óleo de cozinha usado na composição. Esse é um caminho parecido com o adotado pelo empresário e visionário britânico Richard Branson. Sua empresa aérea, a Virgin, desenvolveu com duas empresas europeias um biocombustível que tem na fórmula gases industriais que chegariam à atmosfera na forma de carbono. A companhia não trabalha só com essa possibilidade. “Quase 100% dos nossos lucros são destinados a pesquisas com biocombustíveis, que podem vir de usinas no Brasil”, disse Branson quando passou pela Rio+20.

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Os automóveis inspiram ou­tro caminho possível para o avião sustentável. O Centro Aeroespacial Alemão (DLR) desenvolveu a aeronave Antares 3, que tem motores abastecidos com células de hidrogênio. O protótipo ainda não saiu do chão, mas os engenheiros alemães calculam que sua autonomia será de seis mil quilômetros, sem nada de poluição e pouco ruído. Bom mesmo no quesito silêncio é o Solar Impulse, avião movido pela força do Sol que no começo deste mês decolou de Madri e aterrissou em Marrocos, após um voo de 19 horas. Ainda falta muito para que esse tipo de aeronave encontre alguma viabilidade comercial. Para transportar apenas dois passageiros, precisa abrigar 12 mil células solares no alto de suas longuíssimas asas.

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Um projeto que junta quase todas as ideias anteriores – só a energia solar fica de fora – é o ZEHST (transporte hipersônico com emissão zero, na sigla em inglês). E aqui a ambição é dupla: manter o céu livre de pegadas de carbono e ser mais rápido que Concorde e Tupolev, os únicos aviões de passageiros capazes de superar a velocidade do som. Com seus tanques cheios de biocombustível, hidrogênio e oxigênio, a aeronave voará a uma altitude de 23 quilômetros, chegará aos 5.000 km/h e fará o trajeto entre Paris e Nova York em cerca de uma hora e meia – um Boeing ou Airbus leva cerca de sete horas e meia. Pode transportar até 100 passageiros, 20 a menos que um Concorde, ao preço médio de US$ 6 mil por cabeça. O maior problema: um lugar nesse primeiro voo rápido e verde só deve estar disponível a partir de 2050.

O fim da busca aos ETs

Falta de resultados e crise financeira param projeto nos 

EUA voltado para encontrar sinais de vida alienígena

Larissa Veloso
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SOLIDÃO
O astrônomo J.R. Forster monitora as 42 antenas do Allen Telescope Array,
à espera de alguma mensagem enviada por um ET 
Desde que a humanidade descobriu que a Terra não é o centro da galáxia, a possibilidade de existência de outras civilizações fora do nosso planeta ronda o imaginário dos homens. Depois de Copérnico ter provado a teoria heliocêntrica, o conhecimento sobre o universo e as tecnologias para observá-lo aumentaram exponencialmente. Mas ainda continuamos sem a resposta para uma das perguntas fundamentais: estamos sós? Na procura por uma definição, em 1984 os americanos lançaram o instituto Seti (busca de inteligência extraterrestre, na sigla em inglês). Depois de muita empolgação inicial e de 42 antenas terem sido plantadas na Califórnia, o projeto chega aos dias de hoje à míngua, vítima da demora em produzir resultados concretos.

Na última semana, o instituto sem fins lucrativos realizou um congresso para divulgar o programa e angariar fundos. O objetivo era atrair doadores que possam completar o aporte de US$ 40 milhões para finalizar o Allen Telescope Array, seu principal programa. O ATA, como é chamado, foi concebido para ter o menor custo possível. Em vez de usar uma única e enorme antena, os pesquisadores planejam instalar várias menores, criando um campo similar ao de uma antena de 114 metros de diâmetro. Com os equipamentos, monitoram os céus à procura de sinais radiofônicos que sejam característicos de uma civilização inteligente. A tecnologia é similar à usada em sistemas de televisão.

Apesar da busca por saídas econômicas, os astrônomos só conseguiram montar 42 das 350 antenas previstas no projeto. E mais: por falta de financiamento, a operação dos instrumentos chegou a ficar sete meses parada no ano passado. O que salvou os equipamentos da deterioração por falta de uso foi a Força Aérea americana. Em abril deste ano, os militares contrataram os serviços do instituto de pesquisa SRI, que usou o Allen Telescope Array para monitorar detritos espaciais próximos à Terra.

De acordo com um dos astrônomos sênior do Seti, Seth Shostak, uma das culpadas pela falta de verbas é a crise financeira mundial. “Nossos projetos são financiados principalmente por contribuições individuais. Com os problemas econômicos pelos quais os EUA estão passando nos últimos anos, nossa capacidade de pesquisa foi severamente comprometida”, lamenta. Não é só a disponibilidade de recursos que prejudica a busca por civilizações alienígenas. A falta de resultados imediatos coloca esse tipo de pesquisa em último na lista de prioridades dos investidores. “A questão do ATA é mais antiga do que a crise financeira. Ele sempre foi um projeto caro, e os financiadores têm que optar pelo que vai trazer retorno mais rápido”, avalia Joaquim Eduardo Rezende Costa, chefe da divisão de astrofísica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
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Com o possível sucateamento do Seti, seus defensores argumentam que ficam ainda mais distantes as perspectivas de obter resultados positivos na escuta por sinais de outras civilizações. “Seria irreal esperar sucesso em pouco tempo para nossas buscas de vida inteligente fora da Terra. Mas o fato de não termos encontrado nada ainda, na minha opinião, é simplesmente uma consequência de não termos examinado porções suficientes do céu”, argumenta Shostak.

O campo de busca tem sido reduzido depois que o telescópio Kepler, da Nasa, começou a identificar planetas que poderiam conter formas de vida semelhantes às da Terra (leia quadro). Mesmo assim as possibilidades são quase infinitas. “Ainda não sabemos para onde apontar nossos equipamentos, o universo é vastíssimo”, diz Costa.

Mesmo com esse quadro, em que é mais fácil encontrar um ET do que um centavo vindo de investidores, os astrônomos do Seti não perdem a esperança e se mostram dispostos a tudo. No congresso da semana passada, Jill Tarter, uma das fundadoras, renunciou ao seu cargo de diretora para poupar a instituição do custo do seu salário. Além disso, o instituto promoveu um leilão de quadros, jogos de tabuleiro, pesos de papel, DVDs e até garrafas de gim. Só resta torcer para que os extraterrestres do lado de lá não estejam passando por problemas semelhantes na busca por gente como a gente.

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